As marcas da ditadura não ficaram apenas na alma e na carne dos militantes perseguidos e torturados. Hoje, há exatos 50 anos do golpe civil militar, os presidentes golpistas estão homenageados em nomes de ruas, avenidas, praças e escolas.
De Norte a Sul do Estado, são pelo menos 32 pontos que levam nomes dos militares que comandaram o país pela via autoritária a partir de 31 de março de 1964, estabelecendo política de cerceamentos e torturas.
Em Vila Velha, uma das ruas que levam ao Convento da Penha é a Castelo Branco, nome do marechal colocado no comando do país após a deposição do então presidente João Goulart.
As homenagens também estão multiplicadas pelo país. No Rio de Janeiro, a ponte que liga a capital ao município de Niterói leva o nome Presidente Costa e Silva, marechal que inaugurou o período mais duro da ditadura, em 1968, com o Ato Institucional nº 5. A ponte foi batizada pelo seu sucessor, Emílio Garrastazu Médici.
Constrangimento
Um dos casos mais emblemáticos de homenagens a militares no Estado está na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). O local sempre foi centro de efervescência política e, durante o período militar, abrigou os principais opositores ao regime.
Isso não impediu que, em 17 novembro de 1964, a universidade concedesse o título de doutor “honoris causa” a Castello Branco. Em maio de 1965, a sala dos Conselhos Superiores da universidade recebeu uma placa para que o título fosse lembrado.
Confira especial sobre os 50 anos do Golpe Militar
A sala, localizada no prédio da Reitoria, é a mesma onde hoje a Comissão da Verdade da Ufes se reúne mensalmente para tratar, justamente, de atrocidades cometidas a mando do “doutor”.
Descomemorar
A pedido da comissão, a placa será removida. Uma solenidade de descomemoração acontecerá amanhã, às 11 horas. A data marcou o início da resistência à ditadura militar.
O reitor da Ufes, Reinaldo Centoducatte, contou que a placa será substituída por outra, que homenageia os membros da comunidade universitária que reivindicaram liberdades democráticas no passado.
“Não estamos negando nossa história, mas acho razoável que a placa seja retirada da sala, em ato simbólico que reflete repúdio ao estado ditatorial que se instalou no país por mais de 20 anos”, afirmou.
A placa de Castello Branco será guardada pela Comissão da Verdade. Ao final dos trabalho do grupo, ficará em uma sala junto com documentos confidenciais descobertos nas pesquisas.
“A Ufes foi local de maior resistência à ditadura e, consequentemente, foi o que mais sofreu repressão”, lembra o coordenador da Comissão da Verdade da universidade, Pedro Ernesto Fagundes.
Crianças
No bairro Aparecida, em Cariacica, a Escola Arthur Costa e Silva fica na rua de mesmo nome e é ponto de referência. Por isso, na municipalização dela, em 2005, a troca do nome foi recusada. Na época, apenas foi substituído o cargo “presidente” pelo primeiro nome dele, “Arthur”.
“Costa e Silva atrasou a sociedade em vários setores. No 9º ano, os professores de História explicam aos alunos o nome da escola. Fora isso, a comunidade é indiferente”, explicou o vice-diretor da unidade, Bruno Souza Marques.
Ainda na região de Porto de Santana, Cariacica, outras duas escolas estaduais levam os nomes de Médici e Castello Branco.