Ele tem apenas nove anos, mas já comete crimes de adulto. O sonho não é ser jogador de futebol, mas se tornar um grande chefe do tráfico de drogas. Enquanto não chega a hora, ele “brinca” de chefiar um grupo de 15 crianças, todas elas usadas para traficar drogas em Vila Velha.
O caso veio à tona depois que um dos integrantes do grupo, um garoto de 11 anos, foi apreendido com drogas, na noite de quinta-feira (3), no bairro Divino Espírito Santo.
Segundo a assistente social e conselheira tutelar de Vila Velha Liduína Portella, a ostentação e o poder são os principais atrativos para que, desde pequenas, crianças entrem no mundo do tráfico. “Com o dinheiro que ganham, eles compram tênis de marca, roupas e sustentam o vício. Um deles já contou que comprou até uma arma e uma moto. Para eles, isso demonstra poder”.
Segundo a polícia, o grupo, composto por crianças com idade média de 10 anos, atua, principalmente, nas ruas do bairro Cristóvão Colombo.
Diariamente, cinco integrantes são apreendidos e levados para o Conselho Tutelar. Mas eles acabam voltando para as ruas após serem reintegrados à família.
“Por serem menores de 12 anos, eles não podem ser levados para a Justiça, então, cabe ao Conselho Tutelar resolver a situação. Nós tentamos a reintegração para a família diversas vezes, mas muitos pais já perderam o controle dos filhos. Quando todas as medidas possíveis já foram tomadas, nós pedimos a destituição do poder familiar e levamos essa criança para um abrigo. Mas a maioria delas foge e volta a cometer crimes”, explicou Liduína.
Ela afirma que a situação vivida pelas crianças é o reflexo de famílias desestruturadas. “Se essas crianças chegarem até a adolescência, vão cometer crimes ainda mais graves. Não vejo saída”, finaliza.
Vida no tráfico começa aos seis anos
Com apenas 1,25 m de tamanho, o menino de 11 anos é uma das crianças mais ativas do grupo liderado pelo garoto de nove anos. A vida no tráfico começou aos seis anos, quando, pela primeira vez, ele experimentou o crack, segundo a conselheira tutelar Liduína Portella.
As diversas passagens pelo Conselho Tutelar variam de furtos, roubos e tráfico. A última delas aconteceu na noite de quinta-feira, quando a criança traficava em um ponto de drogas em Vila Velha.
Segundo a policial civil Raquel Rodrigues, o garoto já foi recebido por ela na delegacia pelo menos seis vezes. “Você olha para ele e vê uma criança carente de bens materiais e de afeto e não vislumbra que é um bandido. Mas ele é frio e ameaça as pessoas. Sabe que não vai ser preso e, por isso, continua traficando”, diz.
Os outros integrantes do grupo também já foram recebidos por Raquel. Para ela, todos eles têm duas coisas em comum: o vício e o desejo por poder.