O professor de Educação Física e personal trainer Anderson Ruy, de 41 anos, acusado de esfaquear o colega de academia, Filippe Merighetti, de 34 anos, se apresentou à polícia no final da manhã desta quinta-feira (24).
Em depoimento ao delegado Arthur Bogoni, Anderson disse que o desentendimento entre os dois começou há três anos. Segundo ele, Filippe teria agredido uma funcionária da academia. Anderson não gostou da atitude do colega e a partir desse dia começou um histórico de desavenças entre os profissionais.
Ainda de acordo com o depoimento, Anderson e Filippe voltaram a trabalhar juntos na mesma academia há 5 meses, o que reacendeu a rivalidade e as ameaças. Nesta quarta, após uma discussão, Anderson disse que foi até o carro pegar o celular quando foi agredido por Fillipe. Nesse momento, o acusado pegou um canivete que estava junto numa vasilha com frutas e atingiu a vítima.
Anderson afirmou que depois de esfaquear Fillipe saiu correndo com medo da imprensa. O delegado Arthur Bogoni afirmou que vai analisar e anexar o histórico de processos judiciais entre os dois ao inquérito, que tem um prazo de 30 dias para ser concluído. O delegado ressaltou que vai solicitar as imagens das câmeras de videomonitoramento de estabelecimentos da região para analisar a agressão.
Anderson, que se apresentou espontaneamente, foi ouvido e liberado. Ele pode ser indiciado por lesão corporal grave ou tentativa de homicídio. A arma do crime não foi localizada.
A agressão
Anos de desavenças entre os professores de Educação Física Anderson Ruy, de 41 anos, e Filippe Merighetti, de 34 anos, quase terminaram em tragédia na noite desta quarta-feira (23), em Jardim da Penha, Vitória.
Depois de trocarem socos, Anderson acabou esfaqueando Filippe em várias partes do corpo. A vítima se encontra em estado grave no hospital.
Segundo testemunhas, por volta das 18h, Anderson e Filippe se encontraram em frente à academia onde prestam serviço como professores, na Avenida Anísio Fernandes Coelho. Eles teriam, então, trocado algumas palavras em tom de discussão.
De acordo com um outro personal trainer, de 34 anos, após o encontro Filippe teria ficado nervoso e pedido que ele o acompanhasse até uma padaria localizada na mesma rua. Anderson, então, entrou na academia e saiu minutos depois, seguindo em direção ao veículo dele.
Já na avenida, alguns metros depois da academia, os dois iniciaram uma briga, trocando socos e chutes. No meio da confusão, Anderson pegou um canivete e esfaqueou o braço, o peito e o abdômen de Filippe. Após o crime, o professor fugiu no carro dele, uma Saveiro prata.
Socorro
Ferida, a vítima conseguiu atravessar a rua e pediu socorro em uma padaria. De acordo com funcionários do estabelecimento, Filippe sangrava muito e recebeu ajuda de amigos.
Um colega de trabalho que iria até a padaria com Filippe contou que o amigo segurava o abdômen e sentia muita dor.
“O corte era muito grande, ele segurava forte o abdômen. A única coisa que ele conseguia falar era que ia morrer. Ele estava muito machucado”, relatou a testemunha.
Enquanto Filippe era socorrido por amigos, uma ambulância passou pelo local. A vítima foi encaminhada em estado grave para um hospital particular da cidade.
Testemunha
Um adolescente de 17 anos passava pelo local quando a briga aconteceu. Segundo ele, os professores trocavam socos, mas a testemunha só viu que um deles tinha sido esfaqueado quando a pessoa atravessou a rua.
“Eles lutavam no chão, dando socos um no outro. Um deles usava uma blusa da academia, então percebi que era um professor. Não vi nenhuma faca ou objeto que cortasse com eles. Vi que a vítima estava sangrando quando ele andou em direção à padaria. A cena foi feia. Ele sangrava muito”, contou.
De acordo com a família de Filippe, ele passou por cirurgia e, apesar do estado grave, ele estava estável. Já Anderson não foi localizado pela polícia.
De vítima a agressor
A rixa entre Filippe e Anderson era antiga, e eles já teriam discutido outras vezes. Em uma delas, Filippe quebrou o nariz de Anderson, durante uma briga em um bar.
“Eles viviam batendo boca, um provocando o outro, todo mundo sabia disso. O Anderson dizia que o Filippe o estava ameaçando de morte. No ano passado, ele quebrou o nariz do Anderson com uma cabeçada. Não ia demorar para isso acontecer”, comentou um funcionário da academia.
A família de Filippe informou que sabia das desavenças do professor. De acordo com um tio dele, um engenheiro de 63 anos, o sobrinho dizia que não aguentava mais as provocações de Anderson.
“Hoje mesmo ele ligou para a minha esposa e disse: ‘Tia, não tô aguentando mais esse cara!’. Desde que o Filippe quebrou o nariz do Anderson, ele começou a ameaçar meu sobrinho”, contou.
A gerente administrativa da academia, que pediu para não ter seu nome divulgado, garantiu que os professores nunca discutiram dentro do estabelecimento.
Professor alega legítima defesa; ele se apresentou à polícia na manhã desta quinta-feira
"Minha vida acabou. Eu a destruí por causa de um mau elemento. Tenho medo que ele tente me matar”, disse Anderson Ruy, em entrevista ao jornal A GAZETA, horas após o crime.
Foragido até a noite desta quarta, o professor de educação física fez contato por telefone, com a nossa reportagem, para esclarecer o crime. Ele alegou ter agido em legítima defesa e disse que é ameaçado pelo professor Filippe Merighetti há anos.
“Ele é uma pessoa bipolar, que agride todo mundo. Ele tem várias ocorrências por agressão, não só a mim. Você não sabe como é ir para o trabalhar e ter alguém o tempo todo dizendo que vai te matar, que vai te bater até você cair no chão”, declarou.
Anderson trabalha na academia há cerca de 15 anos. De acordo com ele, com a chegada de Filippe, as rixas começaram, mas ele nunca soube o motivo das provocações do colega.
Na noite desta quarta-feira (23), após ter sido atacado com socos pelo professor, ele esfaqueou Filippe. “Na hora eu não pensei. Depois que eu vi que tinha feito coisa errada”, disse.
Anderson se apresentou à polícia na manhã desta quinta-feira. Ele será ouvido pelo delegado Arthur Bogoni.
Susto na rua
“Os dois trocaram muitos socos” Adolescente de 17 anos, estudante
Um estudante de 17 anos passava pela rua e presenciou a briga entre os dois professores.
O que você viu?
Eu estava do outro lado da rua e ouvi um barulho de gente brigando. Quando olhei, vi um por cima do outro, trocando muitos socos. Eles se batiam muito! Um deles levantou e atravessou a rua, sangrando.
Você chegou a ver ele sendo esfaqueado?
Não. Para mim eles só estavam trocando socos. Só percebi que ele tinha sido esfaqueado quando atravessou a rua sangrando.
A vítima falou alguma coisa?
Eu não ouvi. Só vi que ele sentia muita dor e segurava o abdômen. As costas e o peito sangravam.
O que o agressor fez depois?
Ele começou a gritar: “Não foge não, volta aqui!”. Entrou no carro e fugiu.
Você acha que ele queria matá-lo?
Não sei. Mas acredito que se a vítima não tivesse fugido, o agressor continuaria esfaqueando. Fiquei assustado com a brutalidade deles, de como lutavam e trocavam socos.