A disputa por um templo no bairro Balneário de Carapebus deixou duas igrejas em pé de guerra na Serra. De um lado, está a Igreja do Evangelho Pleno - Missão da Assembleia de Deus Coreana, do outro, a Igreja Monte Sião. A questão foi parar na Justiça, que, na última quinta-feira, deu ganho de causa à primeira, determinando a reintegração de posse do templo que era ocupado pela segunda. Mas, como cabe recurso, a discussão deve continuar.
O problema foi parar na Justiça em abril deste ano. Isso porque o pastor Dejandro Abel Depiante – que quando abriu a congregação em 2010 era ligado à Igreja do Evangelho Pleno – e também todos os membros da congregação em Balneário de Carapebus resolveram se desligar da instituição. Eles fizeram uma votação e se filiariam ao Ministério Monte Sião. Assim, os fiéis continuaram a se reunir no mesmo templo, agora sob nova denominação.
A direção da Igreja do Evangelho Pleno, porém, não gostou da decisão e, entendendo que tem direito ao templo, entrou na Justiça para obter a reintegração de posse. Conseguiu.
Não é o que acham pastor e fiéis agora da Monte Sião, que protestaram na porta do fórum da Serra no dia da audiência. Eles entendem que, como o templo foi construído com recursos que vieram de doações dos próprios membros, a igreja pertence a esse grupo de fiéis, por isso devem recorrer da decisão.
A alegação dos membros é de que a única ajuda do pastor Paulo Kim, presidente estadual da Igreja do Evangelho Pleno, foi um empréstimo de R$ 30 mil para ajudar na compra do terreno. Outros R$ 25 mil teriam vindo da venda de um carro do próprio pastor Dejandro. O advogado da Igreja do Evangelho Pleno, porém, nega que tenha havido empréstimos.
“Como condição para esse empréstimo, ficou combinado que o imóvel ficaria no nome do Evangelho Pleno e que ele seria transferido assim que a dívida fosse paga”, explica Paulo Alves, radialista, comerciante e membro da Monte Sião.
“Tínhamos o nome deles, mas não tínhamos muito apoio. As pessoas de lá não ofereciam ajuda. O próprio pastor Kim só teve aqui umas quatro vezes”, disse a secretária Christiane Menezes.
Com uma procuração, o pastor Dejandro transferiu a igreja para o nome da mulher dele e, depois, ela teria, segundo ele, doado para a nova congregação com um novo CNPJ. O pastor conta que chegou a oferecer um veículo Tucson e mais R$ 40 mil para quitar a parte não paga do empréstimo, mas a igreja não aceitou.
Fiéis se reúnem em terreno vizinho à sede religiosa
Enquanto estão sem templo para fazer seus cultos, já que foram notificados a deixar o local onde se reuniam, os fiéis da igreja Monte Sião se reúnem em um lugar que eles mesmos improvisaram no último fim de semana. O terreno fica lado a lado com o templo.
“Nós não precisamos do templo para adorar a Deus, por isso nos reunimos aqui e foram mais de 200 pessoas no último final de semana”, disse o radialista Paulo Alves.
O grupo não sabe o que vai fazer no futuro, mas não perdeu a esperança de reaver o antigo templo, já que pretendem recorrer na Justiça para que voltem a ocupá-lo.
Com sentimento de injustiça por ter perdido o templo, o pastor Dejandro Depiante contou que era ligado à Igreja do Evangelho Pleno, mas diz ter aberto a igreja com recursos próprios. “Vendi uma moto para abrir na época, aluguei o ponto. Como era ligado a eles coloquei a placa deles”, conta.
Ele diz que para o terreno tentou empréstimo no banco e não conseguiu. “Tinha um carro que valia R$ 25 mil e faltava 30. Fui até o pastor Paulo Kim. No início ele não quis me emprestar. Emprestou mas disse que o terreno ficaria no nome dele enquanto não pagasse. E me deu uma procuração para transferir quando terminasse de pagar. Começamos a construir, mas sem dinheiro de lá”, disse.
O pastor admite ter pago “umas quatro prestações” e depois ter tirado o imóvel do nome da Igreja porque era necessário.
Ele disse que deixou a Igreja por divergências doutrinárias que prefere não expor. Dejandro diz que tentou até negociar e pagar o que devia à Igreja
“Fui à reunião de pastores. Eu tenho uma Tucson e ofereci ela e mais R$ 40 mil para pagar os juros. Não aceitaram. Disseram que o terreno era deles e que hoje a construção vale mais”, conta.
Sobre ser acusado de crimes de estelionato, falsidade ideológica e apropriação indébita, pastor Dejandro diz estar com a consciência tranquila. “Fiz tudo com a concordância dos membros. Agora, eles lá vão ter que provar que eu cometi esses crimes”.
Igreja quer polícia na reintegração
O advogado da Igreja do Evangelho Pleno - Missão da Assembleia de Deus Coreana, João Victor Herzog, que também é pastor e promotor aposentado, diz que a reintegração de posse será feita com a cobertura policial. Segundo ele, esse pedido se justifica por causa do protesto que fiéis da Monte Sião fizeram na frente do fórum no dia da audiência.
“Eles estavam exaltados. Tentaram fazer pressão na Justiça, mas não deu certo. Nós só não tomamos posse ainda porque não tivemos o aparato policial disponível”, explica o advogado.
Ele destaca que ainda não está decidido o que será feito com o templo, mas é provável que seja designado um novo pastor para o local.
Herzog também disse que registrou queixa crime contra o pastor Dejandro por estelionato (segundo ele, por ter falsificado documento), falsidade ideológica (por ter usado uma procuração com outra finalidade, de acordo com o advogado) e apropriação indébita.
Entenda
O que as igrejas dizem sobre:
Empréstimo
- Monte Sião: os fiéis dizem que o terreno foi comprado com R$ 25 mil de um carro vendido pelo pastor Dejandro mais R$ 30 mil emprestados pelo presidente da Evangelho Pleno. O imóvel ficaria no nome da Igreja até que a dívida fosse paga.
- Evangelho Pleno: O advogado da Igreja, João Herzog, afirma que o terreno foi comprado e pago pela Igreja com ajuda dos fiéis. Não houve empréstimo, segundo ele. “O contrato está em nome da Igreja do Evangelho Pleno”.
Construção
- Monte Sião: A igreja foi construída com dinheiro e até mão de obra de fiéis que venderam pertences e arrecadaram de várias formas.
- Evagelho Pleno: “Toda igreja conta com a ajuda de fiéis para construir, mas também houve dinheiro da Igreja e do Ministério da Coreia”