Dinheiro, poder, luxo e ostentação. É essa a combinação que mais atrai as mulheres para o mundo do crime. E o caminho mais comum para se chegar até ela é o tráfico de drogas.
À medida em que se envolvem nesse tipo de crime, as mulheres vêem o retorno financeiro e o envolvimento vai além: ele passa a ser a garantia de roupas, joias, sapatos, carros, viagens. A garantia de uma vida que elas nunca tiveram.
“Elas sempre entram no crime com o objetivo de ganhar dinheiro fácil, nunca de trabalhar. Em 90% dos casos, entram pelo tráfico de drogas. O tráfico é o principal por causa desse dinheiro fácil e por, teoricamente, não envolver violência. A violência está sempre ao redor. Às vezes isso até facilita a entrada delas, porque acham que não vão correr risco”, afirma o delegado João Paulo Pinto, titular da Delegacia Especializada de Tóxicos e Entorpecentes (Deten).
Na maioria das vezes, as mulheres iniciam a vida criminosa por intermédio de um homem. Primeiro elas têm uma atuação pequena, mas, ao conquistarem a confiança do mundo do crime, se destacam.
“Tem sempre um namorado, marido, irmão que as inserem no crime. Poucas são as que iniciam por conta própria. Elas começam fazendo pouca coisa, depositam um dinheiro, compram ácido bórico, pacote de chup-chup. Algumas começam como vapor na boca. Depois, chegam a dominar o tráfico”, explica o delegado.
É assim que a personagem Fabiana Escobar, a Bibi Perigosa, interpretada pela atriz Juliana Paes na novela “A Força do Querer”, entra no tráfico de drogas.
Diante de dificuldades financeiras, o marido dela vira traficante, e, decidida a não abandoná-lo, ela se envolve a ponto de se tornar a “Baronesa do pó”.
Na Grande Vitória, algumas mulheres chegaram a viver como a Bibi Perigosa. É o caso de Bárbara dos Reis Rodrigues, de 26 anos, que se autointitulava a “Baronesa do tráfico”, e de Iarla Gomes Brandão, 28, conhecida como a Bruxa.
Segundo a polícia, Bárbara estava envolvida com o tráfico de drogas há pelo menos cinco anos, e já havia sido presa pelo crime quatro vezes. Ela era apontada como uma das principais distribuidoras de maconha da Grande Vitória, e foi presa neste ano.
Já Iarla morava em um apartamento de luxo em Itapoã, Vila Velha, e passou a chefiar alguns bairros de Cariacica após a prisão do marido por tráfico de drogas. Ela foi foragida da Justiça durante quatro anos, mas foi presa no próprio apartamento, em 2015.
Criminosas por amor e obrigação
Juristas também consideram que a entrada de mulheres no mundo do crime ocorre por meio do tráfico de drogas. Entretanto, não acreditam que elas sejam levadas pelo dinheiro ou vida de luxo.
De acordo com a juíza Gisele Souza de Oliveira, da 4ª Vara Criminal de Vitória, os motivos passionais, de violência e problemas financeiros estão entre os que mais levam as mulheres para a criminalidade. O deslumbre pelo glamour, segundo ela, pode ser uma consequência.
“Pelo que vejo na vara criminal, a maior causa é de gênero. O homem envolvido no crime oprime a esposa, a filha, para que ela pratique atos criminosos. Tem também o envolvimento amoroso, e a vulnerabilidade social da mulher. Às vezes ela não vê outra saída e entra no crime”, comenta.
A arte imitando a vida
A vida de luxo e ostentação sustentada pelo mundo do crime representa bem a história da empresária Fabiana Escobar, conhecida como Bibi Perigosa.
Ela “ganhou” o título de “Baronesa do Pó” depois que o marido, que até então era carteiro e estudante de matemática, se envolveu com o tráfico de drogas e se tornou o “Barão do Pó”, um dos maiores traficantes da Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro. E toda essa reviravolta será mostrada na novela de Glória Perez, “A Força do Querer”, que estreou no início de abril. na Rede Globo.
Interpretada pela atriz Juliana Paes, Bibi começou na novela como estudante de Direito. Depois se casou com Rubinho, personagem de Emílio Dantas, teve um filho, e, no momento em que a família teve problemas financeiros, o casal se envolveu com o tráfico de drogas.
Em entrevista dada ao jornal O Globo no último dia 2 de abril, Juliana Paes conta que, inicialmente, Bibi não sabe do envolvimento do marido e não compactua com crime.
Ao ver a polícia procurando por ele na casa do casal, ela inicialmente tenta ajudá-lo a sair dessa vida criminosa. Mas, ao decidir não abandoná-lo, se torna a “Baronesa do Pó”, e acaba se deslumbrando com o glamour que o crime proporciona.
Esse deslumbramento, segundo Juliana, está associado ao dinheiro fácil, à possibilidade de comprar roupas e de sentir poderosa, e distorce toda ética que Bibi tinha antes de entrar no mundo do crime.
Baronesa do tráfico
Rendimento de até R$ 500 mil
O caso mais recente de mulher que enriqueceu e adquiriu uma vida de luxo por meio do crime aqui no Estado foi o da “Baronesa do tráfico”, Bábara dos Reis Rodrigues, de 26 anos.
Bárbara foi presa em janeiro deste ano, durante a operação “La Baroneza”, realizada pela Deten. Segundo a polícia, ela era uma das principais distribuidoras de maconha da Grande Vitória.
A suspeita costumava trazer de 50 a 200 quilos da droga do Paraguai, e recrutava pessoas de classe média, inclusive universitários, para distribuí-la na região.
A atividade garantia um rendimento mensal de cerca de R$ 500 mil para a “baronesa”, e foi com esse dinheiro que ela ostentou viagens, carros de luxo e até aviões. Tudo isso foi comprovado pela polícia nas redes sociais da suspeita durante as investigações.
De acordo com a Secretaria de Estado da Justiça (Sejus), Bárbara está presa no Centro de Detenção Provisória Feminino de Viana. Ela faz parte do grupo de quatro mulheres presas pela Deten este ano. Já o total que hoje ocupa o sistema prisional do Estado é de 1.082 mulheres, sendo 56% delas presas por envolvimento com o tráfico de drogas.
Investigações
A atenção da polícia não está voltada só para quem chefia quadrilhas e atua na distribuição de drogas, como fazia Bárbara. Mulheres que ajudam no transporte, como mulas, ou que guardam entorpecentes em casa também estão na mira dos policiais.
“Tem as que se destacam, assumem a chefia quando o dono da boca de fumo é preso. Elas mantêm a atividade criminosa e o advogado para ele. Mas tem também as mulas, que levantam menos suspeitas, as que atuam como olheiras, vapor, integrando ou não a quadrilha”, esclarece o delegado João Paulo Pinto, titular da Deten.
O delegado salienta que, ao serem presas, as mulheres confessam o crime mais facilmente que os homens. “Elas costumam falar que entraram no crime por bobeira, que se deixaram levar. E algumas acham até que não estão no crime. Elas acham que o homem que as inseriu na vida criminosa é o único criminoso”, relata.
Alguns casos em que a vida imita a arte
Janeiro de 2017
Bárbara dos Reis Rodrigues
Foi presa durante a operação “La Baroneza”, da Deten. Se autointitulava a “Baronesa do Tráfico”, e era uma das maiores distribuidoras de maconha da Grande Vitória. Chegava a movimentar cerca de R$ 500 mil por mês, e ostentava viagens, carros e até aviões em fotos nas redes sociais.
Agosto de 2015
Iarla Gomes Brandão
Conhecida como a Bruxa, foi presa pela Delegacia de Crimes Contra a Vida (DCCV) de Vila Velha no apartamento de luxo onde morava, em Itapoã. No local também foram encontrados fuzis americanos, utilizados nas guerras do Iraque e do Afeganistão. Chefiava o tráfico de drogas em Cariacica no lugar do marido, e também tinha envolvimento em homicídios.
Junho de 2014
Mãe e o filho
Uma mulher e o filho foram detidos depois que a polícia encontrou drogas, armas e uma balança de precisão na casa deles, no bairro Itanguá, em Cariacica. Ela era conhecida como Ciganinha, e, na ocasião, negou que o material era dela. Ela admitiu apenas que vendia drogas com o marido há alguns anos, antes de ele ser assassinado. O filho assumiu a propriedade de tudo.
Agosto de 2013
Cláudia Gonçalves da Vitória
A mulher tinha envolvimento com o tráfico de drogas e chegou a ser identificada pela polícia como a “Baronesa do Pó”. No entanto, foi assassinada com oito tiros na casa onde morava, em Oriente, em Cariacica.
Fonte: gazetaonline.com.br