A Polícia Federal cumpriu na manhã desta quinta-feira (18) um mandado de busca e apreensão na casa de Altair Alves Pinto, no bairro Maracanã, no Rio de Janeiro. Capixaba de 67 anos, nascido em Muqui - a 174 km de Vitória - Pinto era homem de confiança do ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB) e, segundo as delações do dono da JBS, Joesley Batista, era quem recebia o dinheiro para manter o silêncio do peemedebista na prisão.
O "senhor Altair", como era conhecido, já foi apontado por Fernando Baiano como o responsável pelo transporte das propinas pagas ao peemedebista.
O lobista disse ter entregue no escritório de Cunha, no Centro do Rio, entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão em espécie. A quantia teria sido recebida em outubro de 2011 por um homem chamado Altair. Começava aí a ser desvendada a identidade do amigo de Cunha, que vivia rotina prosaica e deixou emprego na Assembleia Legislativa do Rio.
AMIZADE COMEÇOU EM BOATE, NOS ANOS 80
A noite na boate Hippopotamus, em Ipanema, era concorrida naquele início dos anos de 1980. A música pop a todo volume embalava os jovens que apareciam por lá. O hoje presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), era um deles. Ia acompanhado de seu amigo Altair Alves Pinto, dez anos mais velho. A amizade que nasceu nos tempos em que o peemedebista morava na Tijuca, agora, anos depois, ganha as páginas dos jornais com uma delação premiada da Operação Lava-Jato.
Em 2001, Cunha tornou-se deputado estadual e abrigou o amigo na liderança do PPB, cujo comando na Casa era dele. Foi quando Altair se filiou ao partido em sua cidade natal, Muqui (ES), a 174 km ao sul de Vitória. A sigla passou a se chamar PP em 2003, mas Altair mantém o vínculo até hoje.
Cunha alcançou voos mais altos em 2002, quando foi eleito deputado federal. Altair foi exonerado para, em 2003, ser lotado no gabinete do deputado estadual Fábio Silva, aliado do peemedebista. Com o pedido de exoneração publicado no dia 21 de dezembro de 2015, após a Polícia Federal entrar em seu apartamento e nas residências do presidente da Câmara, Altair deixou para trás um salário de R$ 7.628.
Na ação da PF, um táxi com placa de Nilópolis foi encontrado na garagem de Cunha. O Touareg, cujo valor de um novo é de cerca de R$ 200 mil, está no nome de Altair, um ex-dono de fusca.
Altair era motorista de Cunha nas campanhas, segundo pessoas que acompanharam a peregrinação por votos. A prestação de contas de 2014 mostra que ele ganhou R$ 28,7 mil por ter alugado carros para o parlamentar. Nas andanças, quando o peemedebista entrava em uma igreja, Altair ficava do lado de fora. Não liga para religião.
Os dois são opostos. Altair gosta de cerveja. O deputado prefere vinhos de qualidade. O amigo de Cunha gosta de comer galeto com batata frita e o presidente da Câmara, de comidas refinadas. Um vive engravatado por conta do ofício. O outro detesta andar engomado e adota jeans e tênis.
Altair gosta de ir aos mesmos lugares e passar os fins de semana em Cabo Frio. A Lava-Jato só o fez se manter mais reservado. Não são muitos os que sabem de suas preferências, embora algumas sejam fáceis de notar, como o gosto por motos. É em uma que ele percorre os quilômetros que o separam de Muqui.
Na cidade natal, ele tem familiares e empresas em seu nome e no de parentes: são duas de granito e uma construtora. Todas constam no inquérito contra Cunha.
PARTICIPAÇÃO EM ESQUEMA NA OBRA DO PORTO MARAVILHA
Documentos encontrados pela Operação Lava Jato na casa de Altair Alves Pinto, apontado como braço direito do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), revelam que duas empresas de sua família forneceram mármores para a concessionária Porto Novo, responsável pela execução do projeto de revitalização do Porto do Rio.
A descoberta reforça as suspeitas da ligação de Cunha com o empreendimento. O primeiro pedido de fornecimento de mármore, no valor de R$ 91 mil, é endereçado à Guarujá Mármores e Granitos. O segundo, em torno de R$ 500 mil, à Indústria Aladim. Os sócios das empresas são o próprio Altair, sua esposa e filhas.
As duas empresas funcionam no mesmo endereço, na Fazenda Portal do Guarujá, em Muqui – a 174km de Vitória.
Fonte: gazetaonline.com.br