A população capixaba já pode começar a preparar o bolso para pagar mais caro pela conta de luz. A partir do dia 7 do próximo mês, acontece o reajuste da tarifa cobrada pela EDP Escelsa no Espírito Santo. Com o cenário de dificuldades enfrentado pelas distribuidoras de energia em todo o país, a tendência é de que o aumento seja significativo.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) informou que a alta pleiteada só será divulgada 15 dias antes data do reajuste. No entanto, dados publicados pelo jornal O Globo mostram que das 34 concessionárias que já tiveram elevação autorizada entre janeiro e julho deste ano, 31 subiram os preços da tarifa, sendo que 27 apresentaram aumento acima de dois dígitos, variando entre 11% e 36,54%.
No total, cerca de 43,2 milhões de residências já pagam mais pela energia. De acordo com levantamentos das consultorias Safira e Thymos, os aumentos médios nas contas residenciais devem ficar entre 16% e 17% este ano, valor superior à taxa de inflação oficial dos últimos 12 meses, que é de 6,52%.
Para o diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), Adriano Pires, o Espírito Santo deve seguir o mesmo caminho. Segundo ele, a expansão das taxas deve-se justamente à medida provisória implantada pelo governo federal em 2013, que reduziu em 20% o valor das tarifas para a renovação de concessões no setor.
Somada ao longo período de estiagem, que levou as distribuidoras a recorrerem ao uso de usinas termelétricas – cujo preço de funcionamento é superior ao das hidrelétricas –, a medida culminou em uma série de complicações financeiras.
E como algumas térmicas não aderiram à medida provisória, as distribuidoras ficaram com parte da demanda de energia descontratada, tendo de recorrer ao mercado livre, no qual os preços são maiores.
Para impedir que o prejuízo chegasse à população, o governo anunciou em março ajuda de R$ 12 bilhões às distribuidoras. No entanto, segundo Pires, o repasse aos consumidores chegou antes do tempo previsto, que seria em 2015, após as eleições. Ainda assim, o aumento não é suficiente para diluir o déficit de distribuidoras e geradoras, que pode ficar entre R$ 60 e R$ 70 bilhões até o fim de 2014.
“No fundo, aquela medida provisória que ia contra a lógica de mercado foi um blefe, pois já estamos pagando uma tarifa igual à que pagávamos e vamos pagar mais caro ano que vem, pois o reajuste será feito em cima de uma tarifa que já cresceu”, explica Pires. Ele ressalta: “Temos uma conta alta, que, dependendo do regime de chuvas, pode demorar de três a cinco anos para ser paga”.
A dona de casa Maria das Graças Cruz, 44, se policia para reduzir os custos de energia em sua casa. No verão, por exemplo, para usar o ar-condicionado, ela desliga o chuveiro quente. O esforço resulta em uma economia de R$ 20 a R$ 30 por mês. Com o reajuste, a solução será economizar ainda mais.
O diretor-geral da Agência de Serviços Públicos de Energia do Estado (Aspe), Luiz Fernando Schettino, incentiva a população a seguir o exemplo de Maria: “Economizar é bom para o meio ambiente, para o bolso e para o país”. Segundo ele, a situação do setor de energia não representa uma crise. “Crise é quando não há solução. Temos energia, mas ela está acima do preço normal. Esperamos que com a vinda das chuvas, o preço volte ao normal”.
Schettino lembra que cerca de 318 mil famílias no Estado têm direito à tarifa social, que é baseada na renda e no consumo de energia e pode reduzir em até 65% o valor da conta. Mas, apenas 80 mil famílias utilizam o benefício. “As pessoas precisam ter consciência de seus direitos e correr atrás”.